UARAL - CD “Sounds of Pain” - 2005
Depois de alguns EPs e demos, lançam em 2005 um CD oficial intitulado de “Sounds of Pain”. Apesar do nome simples, nada, exatamente nada poderia traduzir melhor este disco. Com uma introdução de 3:34’ chamada "Lost", pode ter certeza, que até mesmo de olhos bem abertos em plena luz do dia, você se sentiria perdido. Apenas sons de chuva e sons estranhos misturados a gritos.
"Surrendered to the Decadence" - Dedilhados e arranjos de violão, logo seguidos de um ritmo calmo, palhetadas suaves e um som que hesito falar se é uma flauta, mas sinceramente, que arranjo! O som segue sem bateria e novamente volta para os dedilhados. Então começa a pura lamentação. Vocal médio grave e as vezes duetado. Outro item a destacar são os vocais guturais que aparecem em meio aos arranjos limpos. Duvido que alguém fique bem ouvindo esses 6:34’ de melancolia que termina com um grito desesperado.
"Eternal Beauty of the Trees" começa com um piano enigmático e nostálgico, para então entrarem guitarras, bateria cavalgando e vocais guturais junto a gritos rasgados na linha Hypocrisy. Algumas partes retas de influências do puro death metal até cair em um órgão... Todas as partes são de extremo bom gosto. Guitarras se misturam com solos de violão nylon e novamente aquele arranjo de flauta. Os timbres de vocais limpos nos faz lembrar de Poema Arcanus, outra grande pérola do metal chileno.
Chegamos à faixa título deste moribundo e sorumbático álbum, a partir daí temos a certeza de que este músico é erudito. É necessário destacar "Sounds of Pain" por seus 19:28’ de melodia folk. Vocais bem lamentados/cantados e então uma vinheta que nos remete a alguém que está a folhear um caderno e rabiscar em vão. Agora o drama segue por conta de um violão e um piano, com os vocais mais tristes ainda, então seguidos por vozes rasgadas intercaladas... Como não podia deixar de ser, um solo de guitarra belo e lúgubre. Voltemos aos violões com os vocais guturais, logo mais uma vinheta parecida com a primeira e então após um silêncio, um piano mais triste e sombrio que todos os anteriores nesta parte que precede a entrada de guitarras duetadas, bateria simples mas firme e urros sombrios. Esta excelente faixa termina com uma porrada pesada e vocalização ... Acreditem, são quase vinte minutos de desolação e desgraça.
Depois de fazer um anúncio, começa "Niche"... Com todos os elementos de seu estilo próprio e timbrado, violões e arranjos que lembram flautas, dedilhados e solos, tudo aqui mais uma vez com maestria, só que desta vez num ritmo bem chileno mesmo. Destaque para o final magnífico desta canção, pois se você pensou que não podia ouvir nada mais triste e longínquo do que já tinha ouvido até aqui, se enganou, pois é possível que lágrimas o surpreendam.
Teclado e piano abrem esta faixa que o título dispensa comentários, pois ela se chama "Depresion". Esta por sinal, nos faz lembrar de uma trilha sonora de filme ... Até entrar o conjunto de instrumentos que formam o mais tradicional doom metal. Canção quase instrumental, se não fosse os pequenos trechos guturais em seu final.
"La Vaga Esperanza de Ser" - Com uma voz daquelas típicas cantoras de rádio dos anos 70, essa introdução realmente tem a intenção de fazer voltar no passado. Em ótimos arranjos, com vocalizações que fazem um pequeno coral antes de começar uma lamentação em espanhol, que é cantada e quase chorada ao mesmo tempo ... Finalizando com gritos quase histéricos.
A última faixa leva o nome da banda, que acredito que deva ter um significado próximo a ‘Lamento’. Então "Uaral" é o capítulo final deste CD dramático. Aqui é encontrado de tudo que foi usado do início ao fim do álbum, violões nylon, vocais guturais e rasgados, teclado com timbre de órgão, interpretação teatral de alguém que está chorando ... Tudo executado com extremo bom gosto e agonia .. Sim, o final é agonizante, angustiante ... Os vocais e guitarras traduzem simplesmente isso para estes quase onze minutos de música.
Confesso que há muito tempo não ficava tão impressionado e entristecido (no bom sentido) ao ouvir uma banda como essa. A mistura de como eles mesmos se declaram, Folk e Doom, me fez viajar em esferas etéreas melancólicas longínquas, sombrias e desoladas. Sem exageros, pela originalidade, pelo profundo bom gosto e a delicadeza das composições, com a adição de toda a tristeza já encontrada, este álbum merece nota 10 !
Line-up:
Aciago: Todos os instrumentos
Caudal: Vocais
01- Lost - 3:34’
02- Surrendered to the Decadence - 6:34’
03- Eternal Beauty of the Trees - 6:01’
04- Sounds of Pain - 19:28’
05- Niche - 9:30’
06- Depresion - 5:43’
07- La Vaga Esperanza de Ser - 5:28’
08- Uaral - 10:49’