sexta-feira, novembro 25, 2011


SONHANDO ACORDADO


Vou e vou te levando,

Enquanto temos algum tempo,

Sou filho do vento,

Que me ensina a voar,

A luz que me ilumina sai de dentro,

Sem olhos enxergo o que há,

Sinto sem o tato,

O ponteiro do relógio que não marca o segundo de ontem,

O primeiro de hoje está atrasado e não exato,

Decifra o quinto elemento,

Elevando o teu pensamento e não cuspindo no prato.


Examina detalhadamente os pontos de interrogação,

Aonde perdeu, o que ganhou,

O que comeu, aonde defecou,

Já é tempo de entender o ensinamento,

Chegado é o momento,

De aplicar o que aprendeu,

Se é teu ou meu, não mais importa,

Você é que não sabe,

Que a viagem já começou,

O que ficou, ficou,

Virá do céu, virá do mar,

Em forma de homem, em forma de mulher,

Num clipe sem nexo,

Terror retrocesso,

Fumaça do inferno,

Bracelete de colher,

Máquina de lavar.



Estou preso nos teu olhos sem amor,

Finjo que o meu beijo te acalma,

Testo os limites da dor,

Retalho em pedaços a minha e a tua alma.


Não te peço que me conte como é o teu mundo,

Me contento apenas em te encontrar nos meus sonhos,

Mesmo que seja medonho e profundo,

Rindo dessa frágil promessa e do que fomos.


Tipo assim …!?

Tá ligada!!


Aquele sabe como não preciso nem dizer.....


'Durmo' sem nem mesmo ter sono,

Fecho os olhos e de repente você surge como se realidade fosse,

Chego até mesmo sentir o cheiro do teu perfume doce,

E sobre o pano,

Dito lençol,

Suo, me retorço e vivo,

Mais alguns segundos ao teu lado.


Vamos nos encontrar hoje de noite em meu sonho ou no seu, meu amor?

quinta-feira, novembro 24, 2011


O cemitério, o corvo, o verme e o corpo


Quando chega a noite nos túmulos sombrios,

A lua espalha pálida prateada cor,

Dói uma saudade com cada flor,

Rolam cristais com lágrimas em fios,

Tremem as cruzes sobre os leitos frios ,

Por esse império do mais negro horror,

E sobre os corpos hirtos, sem calor

Abrem as asas os corvos bravios.


Ouvem-se os gritos d'agourentas aves,

Que, perpassando da capela as naves,

Ousam da morte perturbar o sono.

Tudo ali dorme; só não dorme a terra,

Porque a terra que o corpo envolve, encerra

Do verme atroz o pavoroso trono.


O cemitério na madrugada


Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
E fica como louca, sentada, espiando o mar...
É a hora em que se acende o fogo-fátuo da madrugada
Sobre os mármores frios, frios e frios do cemitério
E em que, embaladas pela harpa cariciosa das pescarias
Dormem todas as crianças do mundo.

Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
Tudo repousa... e sem treva, morrem as últimas sombras...
É a hora em que, libertados do horror da noite escura
Acordam os grandes anjos da guarda dos jazigos
E os mais serenos cristos se desenlaçam dos madeiros
Para lavar o rosto pálido na névoa.

Às cinco da manhã... – tão tarde soube – não fora ainda uma visão
Não fora ainda o medo da morte em minha carne!
Viera de longe... de corpo lívido de amante
Do mistério fúnebre de um êxtase esquecido
Tinha-me perdido na cerração, tinha-me talvez perdido
Na escuta de asas invisíveis em torno...

Mas ah, ela veio até mim, a pálida cidade dos poemas
Eu a vi assim gelada e hirta, na neblina!
Oh, não eras tu, mulher sonâmbula, tu que eu deixei
Banhada do orvalho estéril da minha agonia
Teus seios eram túmulos também, teu ventre era uma urna fria
Mas não havia paz em ti!

Lá tudo é sereno... Lá toda a tristeza se cobre de linho
Lá tudo é manso, manso como um corpo morto de mãe prematura
Lá brincam os serafins e as flores, bimbalham os sinos
Em melodias tão alvas que nem se ouvem...
Lá gozam miríades de vermes, que às brisas matutinas
Voam em povos de borboletas multicolores...

Escuto-me falar sem receio; esqueço o amanhã distante
O vento traz perfumes inconfessáveis dos pinheiros...
Um dia morrerão todos, morrerão as amadas
E eu ficarei sozinho, para a hora dos cânticos exangues
Hei de colar meu ouvido impaciente às tumbas amigas
E ouvir meu coração batendo

Tu trazes alegria à vida, ó Morte, deusa humílima!
A cada gesto meu riscas uma sombra errante na terra
Sobre o teu corpo em túnica, vi a farândola das rosas e dos lírios
E a procissão solene das virgens e das madalenas
Em tuas maminhas púberes vi mamarem ratos brancos
Que brotavam como flores dos cadáveres contentes.

Que pudor te toma agora, poeta, lírico ardente
Que desespero em ti diz da irrealidade das manhãs?
A Morte vive em teu ser... – não, não é uma visão de bruma
Não é o despertar angustiado após o martírio do amor
É a Poesia... – e tu, homem simples; és um fanático arquiteto
Ergues a beleza da morte em ti!

Oh, cemitério da madrugada, por que és tão alegre
Por que não gemem ciprestes nos teus túmulos?
Por que te perfumas tanto em teus jasmins
E tão docemente cantas em teus pássaros?
És tu que me chamas, ou sou eu que vou a ti
Criança, brincar também pelos teus parques?

Por ti, fui triste; hoje, sou alegre por ti, ó morte amiga
Do teu espectro familiar vi se erguer a única estrela do céu
Meu silêncio é o teu silêncio – ele não traz angústia
É assim como a ave perdida no meio do mar...
......................................................................................

Serenidade, leva-me! guarda-me no seio de uma madrugada eterna!


Vinícius de Moraes

Rio de Janeiro, 1938

in Novos Poemas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"

O deus-verme

Factor universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

Augusto dos Anjos

segunda-feira, novembro 07, 2011


Crime e Castigo

outro ciclo se inicia

no centro direita e esquerda de mim uma imagem híbrida distorcida

tive a sorte de nascer homo sapiens com reminiscências um tanto que insuportáveis e não deus

caído por pensar querer questionar não se conformar com um plano que não é meu

teste medonho diante da fraqueza e fragilidade humana

fui arrastado para uma realidade que não soube aceitar

não há cura para essa dor

nem o amor salva

anjo de luz apocalíptico luciférico palhaço da libido e o verdadeiro fornecedor do dito livre-arbítrio

o adversário tentador

quem sutilmente lhe descortinou o véu da ignorância

fui eu que fiz ou você que quis!?

por isso tudo me foi retirado

mesmo como cordeiro imolado

não fui perdoado

não tive como recomeçar

por possibilitar o mundo acordar

credor da energia vital daqueles que me rejeitam

não tive tempo

apenas prazo

mas a contagem não para

eu não tenho data para comemorar

as vezes é matar ou morrer

fui ontem para Lisboa para enterrar Fernando Pessoa

num jazigo banal do Mosteiro dos Jerónimos

junto de reis e nobres

ali em Belém

sabe aquele pastel

que mais parece uma tortinha de creme

surpreendeu-o a morte

a doença que não lhe pertencia

anterior modesta hospitaleira

acertou-o em cheio

a facada da misericórdia a liquidá-lo

de um susto

todo portuga a contragosto

[estética moral metafísica

todo esse comércio sem escrúpulo

inclusive ciência fé amor]

inclusive Eu desço com ele à cova

até Florbela

está-se indefeso ante esse tipo de coisa

mesmo um morto esquivo à companhia

sobre quem sempre quis soltar os cachorros

sem casa sem amor sem título sem dinheiro

detido agora no abismo & no silêncio

ferve a ausência & o mistério que sempre souberam

os iniciados no caminho da serpente

como pode-se verificar na estação dos comboios

sutil impressão pintada a mão nos ladrilhos

que chamamos de azulejos

ou seja aqueles ladrilhos que são azuis.

anjo cego torto da expiação

bode baphomet expiatório da civilização

ele estava esperando

em silêncio sofrendo esperando

entregava-se de carne e alma ao que criava

um livro sem título

um poema amigo

um rabisco quase incompreensível

o dorso amargo de uma fruta que de tão madura estava quase podre

tipo uma vermelha e linda maça que por dentro é outra coisa

linha tênue do sabor e saber

em que se confunde o que presta do que não presta

questão de gosto e diferenciação

charada da vida

como ou não como!?

em que se via o antes agora e depois

expresso em palavras e símbolos talvez sem rumo e quase sem sentido aos profanos e neófitos

provocados ao entrar na nave Mãe

Deus é Pai!?

não mais de ferro seda cetim veludo e aço polido vestido

nem nos eternos pergaminhos amarelados

propagados pelas escrituras ditas sacras

mas construído no ar e espaço tempo deformado

para a viagem do mito & a dúvida dos horizontes

folha seca de bizarra flor negra

exposta a uma tempestade que se multiplica na memória

prorrogada até a última noite do dia da verdade

a um limiar interdito

no fim a fenda do salto quântico do nada

último sussurro e voz seguida ainda de uma outra e ainda de um eco

onde o verbo dissolve todos os elos

o abismo do buraco negro da anti-matéria

onde o prazer é risco de vida

açoitado pelo vento gélido

congelando as asas dos que vivem ziguezagueando no alto

pronunciando palavras aéreas

junto dos minúsculos demônios vermelhos e negros

avançando crescendo

movendo-se

com a precisão milimétrica dos minúsculos planetas

& depois

quebrando-se

perdidos & abismados fragmentos deléterios

emissários alados da morte

sentados no colo do poeta

eu vi o mar & sua serpente sépia & harpias & incubus & sucubus

também elementais que desafiam os pretensos conhecedores do bóson de Higgs

o fervor da pronúncia áspera das águas

de uma palavra que conduza os mortos para o outro mundo

a boca que a loucura gostaria de ter

mar revolto em que o último irmão foi engolido até o fundo abissal

arrastado pelos monstros e seres profundos

cansado de nada encontrar

tudo e nada que não fala tem uma segunda morte

a noite a chuva o dragão sarnento e vesgo

as más notícias que chegam com as águas e impressões oníricas chamadas de sonhos ou pesadelos

tudo com o que não é possível se conciliar nesta breve e efêmera existência

deito e acordo com a palavra na língua enrolada do meu sonho fúnebre

que me fará atravessar & sucumbir como a magra carcaça

do afogado em sua patética mudez tagarela

o poeta unge o acaso com a taça trincada vazia

a dor é a noiva das alegrias!

[atravessar oceanos de sangue enfrentar exércitos sozinho e descer aos infernos sem poder chorar ou implorar pela compreensão incompreensível da energia cósmica universal]

sábado, novembro 05, 2011



POEMIUM INDOMITUX


Cagus profanus vomitus bardus

Arruinadus estragus dus sansanus cerubrus

Consumadus ladus extremus februs desvirtuadus

Amus tus mus nus estus acostumadus

Convexus ladus labirintus inflamadus.

Nausius digestus estomacus

Sangrus lagrimus olhus

Armadurus esqueletus ossus quebrus pedaxus

Cum almus inflamus dormentus

Nux saciadus estus.


Sum verburus estandum

Negrum inux pelum verandum

Lexum horum isisinum nerfititiun langunum solum

Insanum

Esquizium

Lithium

Eum sus

Verbatium incomintum profanum argum palavrus

Perforium lastimus eternus

Façus pus causus dus versus dux amous

Rex

Nirvanus sedalex

Pour amour

Deju vu

Insensitus librus du um

Duvidus du escrivum

Lastimus ius ignorantium

Leponex antipsicoticum fux mentium

Abstratus reverberetium

Visius ex fronteirixus perceptium

Magrus parcelus infimus drogatium

Fux lentus barbarus philosophum estreitus

Labyrynthus sthygmus severus

Rerus animus perfeitus

Sux seum

Estarum aquix

Percebum geniux escribus latentus

Bebum vinum sangrum

Despertus intelectus poetium

Energius distortium ilusium

Fedus podrus merdus du caralius

Vux tomarx nus cus!!!@!??....

sexta-feira, novembro 04, 2011


"Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Clarice Lispector

Despedida



Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.


Cecília Meireles



AS COISAS QUE NÃO SE VÊ


Tanto se sofre na morte

Como na ausência se sente:

Se a morte é ausência eterna,

A ausência é morte aparente.


Estive vivo sem viver,

pois a questão não consiste somente em respirar,

se locomover,

e um corpo habitar.



"A morte é passagem para a vida definitiva." (2 Coríntios, 4, 16-18 e 5, 1-10)

"



quinta-feira, novembro 03, 2011


NOVIII


A falta do que está

faltando, sem saber o que

falta nos deixam assim.



Deito querendo levantar,

durmo querendo acordar,

acordo querendo sorrir,

o que será de mim!?


Dias sem dormir,

sem ter com quem falar,

pensando no que escrever,

esperando o que há de vir,

sem nada para contar,

sem vida para viver.