quarta-feira, abril 07, 2010



O LOUCO


Gibran Khalil Gibran


Perguntais-me como me tornei louco.

Aconteceu assim:

um dia, muito tempo antes

de muitos deuses terem nascido,

despertei de um sono profundo e notei que todas

as minhas máscaras tinham sido roubadas

- as sete máscaras que eu havia confeccionado

e usado em sete vidas -e corri sem máscara pelas

ruas cheias de gente, gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram

para casa, com medo de mim E quando cheguei à praça

do mercado, um garoto trepado no telhado de uma

casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.

O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e

minha alma inflamou-se de amor pelo sol,

e não desejei mais minhas máscaras. E, como num

transe, gritei:

"Benditos, bendito os ladrões

que roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:

e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual

que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.