sexta-feira, abril 16, 2010


"De que vale um poeta - um pobre louco
Que leva os dias a sonhar...?

Deixem-se de visões, queimem os versos."

Álvares de Azevedo



SONETO INÚTIL

Peguem meus versos e matem com a faca as vacas e as fadas,
sujem no sangue de todas belas as mortes,
deixem aos pedaços sozinhos sangrando de cortes,
sepultem e enterrem as artes, já estão podres, não servem para nada.
Joguem no lixo junto aos vermes da Terra acabada,
cacem minha alma e espírito em covardes esportes,
juntem com a cinza e o pó da velha má-sorte,
espanquem os poetas das perdidas altas escadas.
Aplausos e alardes à arte são sempre fingidos,
e todo artista que se acha muito útil
já vê o seu rosto nas ruas cuspido.
O homo sapiens só louva o idiota, o que é fútil,
o estúpido e a merda. Tudo está perdido!
Tudo está morto! Ó minha arte que é inútil!