O OLHO DO DIABO
Diz a lenda do meu pago
Quando a coisa fica preta
Tem o olho do capeta
Entreverado no meio
E o gaudério com receio
Não percebe pela prosa
Que o Diabo é a língua venenosa
De quem deseja o mal alheio.
Dizem que tem o olho do Diado
Quando o gaúcho vai mal
E não há freio ou buçal
Que atalhe tal perigo
Por perto ronda o inimigo
Com inveja e mau olhado
E o peão mal informado
Pensa que é praga ou castigo.
E às vezes pela invernada
Quando encontra uma rês doente
O peão de boa fé pressente
Que o capeta por ali anda
E a tropa que ele comanda
Com cuidado e muito sério
Até parece mistério
Sem motivo ela debanda.
Quando nas lides da vida
Os negócios não dão certo
Dizem que o Diabo está por perto
Distribuindo quebranto
Causando o maior espanto
A inveja, o mau olhado
E o gaudério apavorado
Apela até pro Pai de Santo
Mas o Diabo ou capeta
Não são coisas do outro mundo
É a língua dos vagabundos
Que só pensam em falsidade
E o Diabo fica à vontade
Até dá pulo de contente
Quando encontra nesta gente
Só ódio, inveja e maldade.
O Diabo é cada pessoa
Que vive fazendo o mal
Mas um gaúcho bagual
Que tem Deus Pai a seu lado
Pra inveja e mau olhado
E pra um linguarado afoito
Só uma bala de trinta e oito
Na boca do desgraçado.
O olho e a língua do Diabo
Que certos por aí têm
Jamais fará mal a alguém
Porque esta gente não presta
E um bom gaúcho detesta
Covarde e mal encarado
E a marca do gaúcho honrado
Traz estampada na testa.
Quem vive fazendo o mal
E não respeita o semelhante
É canalha ignorante
E não enxerga o próprio rabo
É cascavel, bicho brabo
Pois só maldade ele sente
Cuidado com este vivente
É ele o OLHO DO DIABO.