HAPPY END - VADE MECUM (VemComigo!)
O poeta é um fingidor
Finge que está dormindo
Finge que está fingindo
Finge que sente dor
Sente que está fingindo
Mas não finge seu amor.
Mente que não sente
Apenas por rancor
Poeta afinal, não é gente como a gente!?
será mesmo que ele não sente dor?
Aposto que ele finge que não é diferente
Mas sabe-se lá realmente o que estes seres sentem ou quanto normalmente
é plausível alguém achar ou fingir ser possível um final feliz.
O fim de algo pode ser feliz?
O poeta diz que sim.
Acreditem nele ou não! Eu já tenho a minha opinião!
mas preste bem atenção!
Não quero lhe induzir
Persuadir do que é certo ou não
Já disse! Tenho minha opinião
acredite no que quiser acreditar
No que lhe dizem
No poeta
Ou alguém mais
Na voz ao pé do ouvido
as vezes em quem paga mais.
"-Não! -Não!"
Você aí grita: "- Quem é você afinal?
-Eu acredito em quem me provar
-Eu acredito no que está escrito no jornal!
-Amor tem que provar
e estampar na primeira página
tipo àquelas notas publicadas que comunicam Fulano e Fulana vão casar.
Ou na coluna social: X e Y casaram no dia zero , em uma linda cerimônia realizada na Igreja B+
e receberam os convidados em uma festa chiquérrima no Hotel King 666, o único 1001 estrelas mundo.
- Amar é também casar!"
O poeta neste momento, finge chorar
E pede: "- Não esperem eu ir embora, para então, enfim, perceberem
Que amar não tem relação com casar
Amar não precisa provar
E acreditem no quiserem acreditar
Ou no que lhes faça mais feliz."
Alguém grita novamente: "Ei! Quem é esse poeta e de onde vem esse infeliz!?."
O próprio responde:
"Sim, já sei de onde vim
Devoro-me como a chama insaciável
Tudo o que toca as minhas mãos se torna luz
E o que lanço não é mais que carvão
Certamente sou uma chama!
O que ainda tramo o que
ainda clamo
o que ainda amo traz a
mesma chama
sinto-me salivado pelo verbo,
rodeado de presenças e mensagens
de santuários falhados e de quedas,
de rosários enozados, de obstáculos, de limbos e de muros.
Ferro,
Fogo,
e firmamento
Capto as mentes de enxofre
pois tenho olhos de laser
visão de raio x
E o nariz?
Sinto até o aroma que inertiza as narinas carcomidas...
E as suas almas de rio
cheiro impregnado
nos poros da cidade em vexame, moribunda
Os anjos de aço com suas espadas flamejantes circundam a órbita,
pairam no ar,
o céu hoje está cinza,
os homens, loucos, caem vorazmente,
decepcionados com a sua própria crença,
desesperados,
recorrem, quem sabe, a Shakespeare: "-Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sua vã filosofia."
É tarde!
A humanidade implode graças à sua dúvida,
o último grito e o primitivo, não chega a transcender a sua debilitada existência.
não vai além dos seu rudimentares tímpanos,
jamais chegará ao aguçado ouvido do Universo.
É tarde!
Muito tarde!
Coisa nenhuma subsiste
bem dizia Lucrécia,
mas tudo flui.
Homem, criatura cósmica do Universo,
arauto nômade alado de mistérios-mundos,
do ínfimo átomo manipula a essência,
a mesma idéia dos sóis profundos,
peregrino errante das galáxias - Anjo,
de onde vieste? - Cá para este mundo ...
És maravilhoso, quando és poeta, diabólico, louco, quando muito pensa
a odisséia humana de remota origem
transcrita no espaço e tempo infinito,
transladando séculos (anos luz em sonhos),
habitando o cosmos, ressurgindo ao rito
de um plágio que é a vida,
fascinante enigma transcedental a imagem e semelhança de um mito.
SER DITO POETA
E ESCUTAR ESTRELAS...
- DELAS EXTRAIR POESIA
SER DITO POETA
E CONTEMPLAR O LUAR
E ABSORVER O MAR EM VERSOS
SER DITO POETA
FORMIDÁVEL POETA
E NÃO COMPREENDER OS HOMENS
SER DITO POETA
SENSÍVEL POETA
E NÃO COMPREENDER A SI MESMO
O envelhecimento do meu corpo, do meu rosto,
é a ferida de um punhal terrível.
Como não tenho resignação nenhuma, recorro a ti, óh, Arte da poesia,
que algo sabes de remédios,
na tentativa de embotar a dor com Fantasias e Verbo. A Arte da Poesia
vale até para o poema que não fiz (mas sempre penso), está mais em mim
que muitos (pouco que escrevi)
é o mais inconstante,
indefinido, dos poemas que vivi.
O poema que não fiz
traduz meu mundo,
está implícito ...
único
em meu verso,
já não sei quem sou,
quem ela é,
quem somos
-fundiram-se todos os limites.
O poema que não fiz
sorri comigo e sofre,
e dorme e finge...
pensa a anônima forma
só para não ser,
enfim, subjuntivo.
O poema que não fiz
surge do nada
e conspira a relatividade de tudo (é a razão variável do verbo),
não há palavras,
não há metáforas,
não há gestos,
tinta...
que o descreva.
O poema que não fiz (mas sempre penso),
fecunda a própria poesia
que me seduz a vida inteira.