Será que
nada muda nada?
Estas
linhas objetivam uma sucinta reflexão sobre a possibilidade de uma ação
política efetivamente transformadora e reformadora após os últimos escândalos
políticos, envolvendo diversos partidos brasileiros, dentre os quais podemos
destacar o PMDB, PSB, SDD, PTB, PP, PSDB e também o Partido dos Trabalhadores.
A
estrutura do movimento de ascensão e queda do PT não é muito distinta da
estrutura das antigas tragédias gregas. O herói trágico, que precisa
necessariamente ser um mortal como os demais, alcança, depois de uma árdua luta
contra forças que aparentemente lhe eram muito superiores, a posição mais
elevada dentro da hierarquia social, como nos casos de Édipo e Lula.
Depois
de um breve período de plena felicidade, a tragédia se configura quando o herói
se dá conta de que, apesar de sua firme intenção de não cometer os erros a que
estava predestinado, ele acaba de qualquer jeito por cometê-los. A tragédia,
nessa concepção tradicional, alcança o ápice no momento que Aristóteles chamava
de “momento do reconhecimento”, em que o herói se dá conta de que as estruturas
que o próprio fato de sua ascensão havia aparentemente subvertido na verdade
estiveram operantes ao longo de todo o seu percurso, determinando-lhe os passos
sem que ele pudesse ter consciência disso. Assim como Édipo, nesse momento,
aparece a si próprio como uma marionete do Destino, ou, numa chave de
interpretação psicanalítica, de seus desejos inconscientes, Lula, aparece como
a marionete de uma estrutura política, social e econômica que só ratificou o
seu poder ao permitir que esse ex-operário chegasse a ocupar a presidência da
República.
A
questão com a qual a queda do PT irremediavelmente nos confronta é a seguinte:
se nem mesmo Lula, Dilma e os partidos de esquerda aglutinados em torno do PT
foram capazes de alterar as estruturas seculares que respondem pela
desigualdade social no Brasil, se até mesmo um partido de esquerda, para chegar
ao poder e exercer o poder, precisou se “endireitar”, reproduzindo as mesmas
velhas práticas que sempre combateu, será que o Brasil está fadado a ser o
“país do passado” que sempre foi, um país escravocrata dominado por uma pequena
elite que só se ocupa em perpetuar os seus antigos privilégios?
Se
mesmo figuras quase míticas da resistência ao poder constituído sucumbiram
diante desse mesmo poder no momento em que o tiveram nas mãos, será que alguém
é capaz de efetivamente transformar o que quer que seja?
Em
suma: até que ponto podemos superar essa melancolia que, como uma nova peste,
ameaça arrastar-nos todos à convicção niilista de que nada muda nada, à
convicção de que nenhuma ação política racionalmente articulada tem o poder de
alterar substancialmente as estruturas seculares do nosso Brasil?