Contradizendo Victor Hugo que
preconizava ao povo espanhol a adoção do regime republicano, Machado de Assis
recorda, em uma crônica de 13 de dezembro de 1868, que, em política, se deve
evitar o erro do abstracionismo, isto é, pretender que haja um modelo político
de valor universal aplicável a todos os casos. Nesse sentido, assim diz Machado
de Assis: Como
partidário de uma idéia, andou Victor Hugo perfeitamente. Como pensador e
estadista, queiram perdoar-me; encosto-me antes a Montesquieu. Para ser
pensador é mister olhar as coisas por cima do ombro do seu partido. Nisto
incluo republicanos e monarquistas, socialistas e absolutistas, todos quantos
querem organizar o mundo como um tabuleiro de xadrez, e dar a forma predileta
de suas convicções como a panacéia universal de todas as doenças políticas, sem
atenção à índole, estado, tendências, desenvolvimento histórico e moral dos
povos. (....) Os Vitrúvios do século querem fazer da política uma arquitetura,
e esquecem justamente que a arquitetura compõe-se de linhas curvas e linhas
retas. Será remédio a política, será; mas é mister não esquecer o equívoco de Figaro
que, tendo a seu cargo uma repartição de drogas, dava muita vez aos homens bons
medicamentos de cavalo. – o que lhe inspirou esta reflexão sensata, mas tardia:
Ah! Ah! Não há remédio universal! (...) admirador do grande desterrado da
França, admiro também outro desterrado não menos digno da minha admiração. - O
Bom Senso! Ó desterrado do século! Quando voltarás a este mundo para repor as
coisas nos seus eixos? Sem ti matam-se e decompõem-se os homens, fazem-se e
desfazem-se governos, cruzam-se os interesses, campeia a vaidade, domina a
força, sob todas as formas, da espada e do número, sem ti andamos em perpétuo
conflito, sem ti vamos ter a política-xadrez, a política-unifomidade, a
política-alinhamento. Quando voltarás a este mundo, ó Bom Senso, ó meu amigo?