Em 18 de maio de 1980, há exatos 30 anos, com 23 anos de idade, Ian Kevin Curtis, suicidou-se. Na noite anterior, tinha pedido à mulher que o deixasse sozinho em casa. Fumou cigarros, esvaziou uma garrafa de whisky, pôs a girar o vinil "The idiot", de Iggy Pop, viu na televisão o filme "The Stroszek", de Werner Herzog, e escreveu em uma carta "Já não aguento mais". Por volta das cinco da madrugada, colocou uma corda à volta do pescoço e enforcou-se.
Poeta mais do que músico, gênio para muitos. Há quem diga que viveu demasiado em pouco tempo, Fizeram-se inúmeras especulações sobre a sua morte, sem chegar a nenhuma conclusão. Ian Curtis era uma figura complexa para ser percebida como as outras.
Os Joy Division, criados na cidade de Manchester, no frio Norte da Inglaterra, nasceram do pó dos bairros de tijolo vermelho e depressa se tornaram muito mais do que mais uma banda punk do final dos anos setenta. Ian Curtis não temia a depressão, enfrentava-a e ao mesmo tempo acarinhava-a nas suas letras duras. “Attrocity exhibition” ou “Love will tear us apart” são exemplos disso. Esta última canção tornou-se o maior êxito comercial de uma banda que permaneceu obscura, mesmo quando o seu som chegou aos sempre difíceis de conquistar americanos.
Ian cantava com um estranho timbre baixo-barítono, o que fazia com que sua voz parecesse pertencer a alguém muito mais velho que ele realmente era. Ele também era fascinado pela escaleta Hohner, um instrumento que foi mostrado a ele pela esposa de Tony Wilson, Lindsey Reade. Ele utilizou o instrumento ao vivo pela primeira vez durante uma passagem de som do Leigh Rock Festival em 1979, após o que ele adquiriu uma coleção de oito desses instrumentos. A fascinação de Ian Curtis pela escaleta levaria Bernard Sumner a utilizar o instrumento tempos depois, no New Order.
Musicalmente, Bernard Sumner e Peter Hook, mais tarde pioneiros do electro pop dos anos 80 com os New Order e Electronic, criavam ambientes simples, básicos para alguns, mas defendendo-se dessa acusação na evidência de que nem sempre é preciso complicar para criar grandes melodias.
Perseguido pela epilepsia quase tanto como pelos problemas que o deixavam horas a pensar, Curtis ficou associado, em palco, a uma dança estranha, obstinada, de movimentos bruscos dos braços e das pernas, em espectáculos de luzes quase apagadas devido à sua doença. Sobre a epilepsia, Ian Curtis admitia ficar horas sentado na cama, à espera dos ataques, para depois poder dormir. Talvez Curtis sofresse também de uma certa epilepsia psicológica, que lhe ditava as frases em espasmos, tendo como resultado poemas duros, tristes, inesquecíveis.