terça-feira, junho 22, 2010


Vai rindo...

Quem ri da nossa fragilidade
não conhece nossa riqueza.
Há mundos onde a força não penetra e outros onde não há felicidade,
lugares estranhos, onde mais vale a vã pobreza.
Bem aventurança ou não,
a vida plena se guarda distante da violência,
e nem tudo cabe na palma da mão.
Dentro de cada intenção há vontade de acertar;
a mão que bate é a mesma que acaricia,
a mesma que de dia constrói a fraternidade e faz a guerra
e a noite visita a intimidade de um corpo febril por prazer.
Não somos partes. Somos um Nada e um Todo.
Quem ri de nossas fraquezas,
por detrás do riso oculta o medo da vida e de chafurdar no lôdo.
Não sabe que os sonhos são feitos de algodão doce e das mais diversas belezas.
Pobre da virilidade daqueles que tentam se ocultar na amargura.
As regras criadas só podem prender;
a felicidade só brota no ser livre.
Bêbados, lunáticos e drogados também são anjos;
talvez filhos escuros de um pai claro,
raios de sol retidos por janelas de um sem porquê.
Quem se esquece que as janelas podem e devem ser abertas
vive na mesmice da coisa estática, parada ou sei lá o quê;
anseia pelo belo pronto que não é o belo próprio.
Tudo sabem de borboletas
mas nada entendem de lagartas.
A vida é um breve momento
feito de outros momentos.
Quem ri da sarjeta não sabe onde tem os pés,
não entende que a vida é um eterno caminhar.
Supõe que pisa e sempre pisará nas estrelas.
Tem calos e bolhas obtidos pelo uso dos sapatos que protegem.
Simbólicos elmos que o mantém distante da dor,
mas também excluí toda possibilidade de pleno prazer.
Neste mundo abaixo do sol,
quem sabe realmente para onde vai?
São saudáveis os ditos insanos.
Pela indiferença a tudo, caberá a estes herdar a terra.
Quem ri dos insanos tem medo dos espelhos,
assassina minuto por minuto seu próprio ridículo
e acorda, após o suposto crime perfeito, mais ridículo ainda.
Acordar não é despertar.
Muitos acordados ainda dormem.
Quem ri da fome nunca se sacia.
Quem ri da nossa simplicidade
não conhece nossa riqueza.
Conhece, lamentavelmente, apenas
aquilo que se pode pegar e ter com as mãos.