"À medida que a luz aumenta, vemos que somos piores do que pensávamos. Assombramo-nos
de nossa anterior cegueira ao ver surgir de nosso coração toda uma corja de maus
sentimentos, como sujos répteis que saem a rastros de escondida cova. Mas não devemos nos
assombrar nem nos turvar. Não somos piores do que fomos; pelo contrário, somos melhores.
Mas, enquanto nossas faltas diminuem, a luz mediante a qual as vemos se faz mais brilhante, e
nos enchemos de horror. Enquanto não há sintoma de coração, não advertimos a profundidade
de nosso mal, achamo-nos em um estado de cega presunção e dureza, vítimas do próprio
engano. Enquanto seguimos a corrente, não temos consciência de seu rápido curso, mas, quando
queremos resisti-la, embora seja muito pouco, ela se faz sentir."
Fénelon