segunda-feira, outubro 17, 2011


ELEGIA (VI-OCTO) ELODIA


6


Em ânsias me debato, em delírios me agito,

Imitando a solidão, insondável e muda,

No desejo da posse auscultando o infinito...


E demoro o olhar a percorrer o espaço

E o espaço, altivo, em chamas se transmuda

Para envolver sutilmente meu casto, gasto, corpo lasso.. .


Tortura-me o desejo das perdidas,

Das que trilham do vício os caminhos largos,

Das que fingem e são apetecidas...

Mas revolta-me o cerco destes muros,

Onde vivo escondido e torturado

Mostrando às outras pensamentos puros.


Envergonha-me a falsa castidade,

Amo, os ímpetos lúbricos, convulsos,

A alvorada da minha mocidade,

Os desejos insanos e propulsos...


Eu que trago na carne a sensação ardente,

Os impulsos de amor, impudicos, bestiais,

Eu que tenho a maldade, impura, da serpente,

E o fruto que tentou nossos primeiros pais...

Eu, que sinto no corpo um fogo incandescente,

Desejos de pecar, violentos e brutais,

Eu que vivo a sonhar arrebatadamente

Os beijos ardentes e sensuais...


Estes são versos que trabalhei à sombra do retiro,

Onde vivo remoendo as emoções que eu sinto,

Levai para o além o languido suspiro

Da mágoa e do pesar que agitam meu instinto.


6


Dois anos que valem vinte,

Sem repouso, sem sossego

Passei vagando entre os homens

Doido, enfebrecido e cego !

Dois anos a mesma imagem!

Dois anos o mesma ideal....

Dois anos por toda a parte

Ébrio de amor procurei-a!

Pelas ruas, pelas praças,

Pelos campos e desertos

Buscando essa esquiva sombra

Levei meus passos incertos!

Quantos lábios me sorriam !

Quanta beleza encontrei !

A quanto amor puro e casto

Voltei o rosto, — passei !

E no entanto pudera

Sem frenesi, sem loucura

Colher a flor perfumada

De modesta formosura

Parar na febril carreira,

Dizer : — basta, a vida é esta,

Quem foge o comum dos seres

Segue uma estrela funesta!


6


Sentimentos carnais, esses que agitam

Todo o teu ser e o tornam convulsivo...

Sentimentos indômitos que gritam

Na febre intensa de um desejo altivo.

Ânsias mortas, angústias que palpitam,

Vans dilacerações de um sonho esquivo,

Perdido, errante, pelos céus, que fitam

Do alto, nas almas, o tormento vivo.



Dor cruel, ó vã tortura !

Ó força inútil, ansiedade humana !

Ó círculos dantescos da loucura !

Ó luta, ó luta milenar, insana !