APRILXXVII
Dito poeta e do amargo destino
Senti ainda jovem que a vida é pesada e dura,
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura,
E ainda choro o rigor da sorte escura,
Se as dores passadas relembro ou imagino.
Chegado o momento, de ser isento
Dos sonhos da noite e do dia
E só com saudades, só lamento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento,
Senão de ter escrito o que sofria.
Nestes sombrios recantos,
Nestes saudosos retiros
Onde corre um rio de prantos
E sopra um ar de suspiros.
Eu sou o produto de sutil matéria,
Sob a sombra do onipotente,
Substância quase etérea,
Que vibra e ama e sonha e pensa e sente.