quarta-feira, setembro 12, 2018



MÚSCULOS E FÚRIA


Documentário ilumina trajetória faiscante do jornalista Tarso de Castro

Gaúcho de Passo Fundo fez história no Rio de Janeiro à frente do semanário O Pasquim e foi um dos grandes personagens da imprensa e da cultura brasileiras no Brasil sob ditadura militar




Força da natureza. Divisor de águas. Gênio. Visionário. Superlativos transbordam no documentário A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro para dimensionar a importância do jornalista gaúcho que saiu de Passo Fundo e consagrou-se no Rio de Janeiro jogando gasolina na fogueira das vaidades que iluminava a imprensa e a vida cultural do Brasil sob a ditadura militar. Usualmente fartos em tributos laudatórios, elogios de tal monta vestem muito bem no biografado pelos diretores Leo Garcia e Zeca Brito. E são contrabalançados por aqueles (poucos, diga-se) que lembram de um Tarso sem caráter, irresponsável, mulherengo, alcoolista e perdulário, entre outras impressões que embaralham o homem e o mito que deixou marcas em amigos, inimigos, afetos e amores.

Tarso de Castro morreu em 1991, aos 49 anos, vitimado pela cirrose hepática. Das suas três grandes paixões destacadas no filme, a bebida foi a fatal. Com as outras duas, o jornalismo e as mulheres, viveu fortes emoções. À frente do semanário carioca O Pasquim, que fundou em 1969, Tarso cravou um marco no jornalismo independente reunindo a nata da escrita e do traço nacionais – entre outros, Paulo Francis (1930–1997), Sérgio Cabral, Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar e o também gaúcho Luiz Carlos Maciel (1938–2017). A chamada patota do Pasquim desafiou, com humor, entrevistas antológicas, provocação e jornalismo puro sangue o período mais pesado da censura. Sobre as mulheres, Tarso enroscou-se com muitas beldades: da gaúcha Barbara Oppenheimer, com quem foi casado por quatro anos, à estrela americana Candice Bergen, passando pela diva tropical Leila Diniz.


Garcia e Brito criaram um dispositivo irreverente para retratar esse tipo nada convencional. Colocaram mais de 30 entrevistados, entre eles ex-parceiros de Pasquim e outras publicações lançadas por Tarso, amigos como Caetano Veloso, familiares e namoradas, a conversar entre si, por telefone e em mesa de bar. Brotam histórias saborosas sobre o “homem que não podia ficar velho”, que viveu e trabalhou com o pé no acelerador, despejando sobre a máquina de escrever, como dizia, 75 quilos de músculos e fúria...