A verdade, meu amor, mora num poço, / É Pilatos, lá na Bíblia quem nos
diz, / E também faleceu por ter pescoço, / O (infeliz) autor da guilhotina de
Paris. / Vai, orgulhosa, querida, / Mas aceita esta lição: / No câmbio incerto
da vida, / A libra sempre é o coração, / O amor vem por princípio, a ordem por
base, / O progresso é que deve vir por fim, / Desprezaste esta lei de Augusto
Comte, / E foste ser feliz longe de mim.
Este trecho do conhecido samba de Noel Rosa e Orestes Barbosa, Positivismo, de 1933, demonstra a presença da filosofia positivista no meio cultural mais popular do Brasil, a música, ao retratar uma amada que transgrediu o fundamento básico de tal filosofia. Não obstante, essa corrente de pensamento também se faz presente no dístico de nosso maior símbolo pátrio, a bandeira: Ordem e Progresso. A expressão é o lema político do positivismo, corrente filosófica popular na época da criação da bandeira nacional, em 1889 e consiste na forma abreviada do lema de autoria do positivista francês Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857): "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim" (em francês L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but.). Seu sentido é a realização dos ideais republicanos: a busca de condições sociais básicas (respeito aos seres humanos, salários dignos, etc...) e o melhoramento do país (em termos materiais, intelectuais e, principalmente, morais). A bandeira de cores verde, amarela e branca foi desenhada pelo pintor Décio Vilares e a ideia para a constituição da bandeira foi dada por Raimundo Teixeira Mendes, então presidente do Apostolado Positivista do Brasil, com colaboração de Miguel de Lemos e de Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica. Representavam-se, assim, os ideais republicanos, que tinham como intuito primordial promover a ordenação e o desenvolvimento do país, buscando escapar do atraso representado pelo extinto governo imperial.
A pergunta
que não quer calar é: Onde foi parar o AMOR?
P.S.
Ordem e Progresso também é um livro do escritor Gilberto Freyre, publicado em
1957 em que o autor aborda a transição do regime monarquista ao republicano no
Brasil.