O
Estudo da Sabedoria Nunca Termina
Ao
estudo da sabedoria jamais havereis de pôr termo; não acabe ele antes de
acabada a vossa vida. Em três coisas cumpre ao homem pensar e exercitar-se
enquanto viva: em saber bem, em bem falar e em bem obrar.
Desterra
dos teus estudos a arrogância; não fiques presumido pelo que sabes, porque tudo
quando sabe o mais sábio homem do mundo nada é em comparação com o muito que
lhe falta saber. Mui escasso é, e muito obscuro e incerto, tudo quanto os
homens alcançam nesta vida; e os nossos entendimentos, detidos e presos neste
cárcere do corpo, estão oprimidos por grandíssima escuridão, trevas e
ignorância, e o corte ou fio do engenho é tão cego que não pode cortar, nem
passar-lhe de raspão sequer, coisa alguma.
Afora
isto, a arrogância faz com que não possas tirar proveito do estudo; creio que
terá havido muitos que não chegaram a sábios e que poderiam tê-lo sido se não
dessem a entender que já o eram.
Deveis
guardar-vos, também, de porfias, de competências, de menosprezar ou amesquinhar
o que os outros sabem ou não sabem, de desejar vanglórias. Para isto,
principalmente, servem os estudos: para nos ensinarem a fugir de tais vícios e
de outros semelhantes.
Juan Luis Vives, in "Introdução à Sabedoria"