AB IMO PECTORE
Era uma noite chuvosa — no chão molhado eu dormia
E nos meus sonhos atormentados revia
As ilusões que sonhei!
Sonhei que vivia...
Meu Deus ! porque não morri ?
Porque do sono acordei ?
Sou eu ! que não esqueci
As noites que não dormi,
Que não foi uma ilusão
Sou eu que sinto morrer
A esperança de viver....
No fundo do coração !
Tudo bem que tu rias das esperanças,
Das minhas loucas lembranças,
Que me corroem assim,
Ou então no silêncio da madrugada, com medo
Chorarias em segredo
Uma lágrima por mim ?
Dorme, meu coração! em paz esquece
Tudo, tudo que amaste neste mundo!
Antes do sonho, uma prece,
Não interrompa meu dormir profundo!
Meu triste coração, dorme na noite calma,
Dorme no peito meu!
Do derradeiro sonho despertei, e na alma
Tudo! tudo morreu !
Feliz daquele que no livro da alma
Não tem folhas escritas,
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas negras malditas!
Alma em pranto, sedenta de infinito,
Em amplas visões o universo se abrindo,
Como a brisa fria no céu noturno, como se acordasse com um grito,
Entre os mundos de Deus passei dormindo!