segunda-feira, março 15, 2010


A SUA ESPERA NA CIDADE PERDIDA

A estrela da manhã, luz vespertina,
Cicerone da solidão do pobre viajante,
Que vagueja perdido entre montanhas verdejantes,
As quais conduzem para o centro duma cidadela libertina.

Há homens, mulheres, animais lucífugos, vivendo isolados,
Um mundo desconhecido de todos, um mundo afastado de Deus;
Na “Cidade Perdida” não há salvação, não há luz, somente breu,
Onde todos são como são, néscios, perversos e degradados.

Na “Cidade Perdida” há bosques negros, perdidos no tempo, misteriosos,
Ouvem-se vozes graves, doentias, das profundezas, sussurrando por toda parte;
Poucos retornam, mas todos adentrarão o “Bosque da Solidão”, cedo ou tarde,
E as vozes, revelarão seus próprios pecados, através de gritos nervosos.

Existe para além do bosque, um imenso precipício, chamado “Salto do Suplício”;
Região árida e infértil, habitada por seres hediondos e estrelas decadentes,
Onde cada ato transforma-se em “Herança Rancorosa” para seus descendentes,
E a sua herança, pensamento aflito, será meu malévolo e odioso vício.
A cidade é dividida pelo “Rio da Misericórdia”, com águas de sangue negro e salgado,
Que nasce no topo da montanha mais alta do “Vale do Feiticeiro”;
Lá estão acorrentadas crianças, abandonadas, em desespero,
Num pranto sem fim, e os habitantes sobrevivem das águas do riacho amaldiçoado.

Há apenas uma criança vivendo na cidade, doce criança,
Que caminha sobre as águas, e cada passo seu, muda o tom do riacho;
Possui o poder nas alturas, possui o poder aqui em baixo;
Ela traz uma insígnia em sua face que significa “Lembrança”.


Na “Cidade Lúgubre” as casas exalam mofo, os porões são moradias,
As almas são inquietas, vivem ébrias, eternamente atormentadas, amargamente lascivas,
Oh! Habitantes desesperados, sagrado vossos pecados, benditas paixões corrosivas;
Saibam que a dor que mora em vossos corações, que fazem chorar, é a mesma que anistia.

Na “Cidade Soturna” são todos sombras de almas mortas,
Escravos do desejo, espectros taciturnos, despossuídos de razão,
Anjos negros de bandeiras rotas, vítimas da paixão,
Donos de terras mortas, onde nem a cruz, nem a rosa brota.

Os seres da “Cidade Perdida” se alimentam de carne crua,
Bebem vinho ao lado de Dionísio e Epicuro,
Em meio às sombras dos anjos, escondidos, no escuro;
Eles não dormem, vagam angustiados pela noite, em becos, na rua.

Foi o Senhor quem me enviou a tal lugar,
Ele sabe de todos os pecados, de todos os sentimentos,
A “Cidade Perdida” é conhecida como a “Cidade do Lamento”,
E eu permanecerei aqui, toda a eternidade, a te desejar, a te esperar.