segunda-feira, março 22, 2010


MEA CULPA

Ando quase mudo
Escondo-me durante os dias
No alto da torre de mim mesmo
As horas são açoite
Para quem vive esperando pela noite
Vago pelo lago da agonia
Aguardando minha noiva fria
Cai a noite
Estrelas vão surgindo
Como doces virgens a bailar
Ganho as ruas escuras
As sombras são o meu lar
Me alimento do medo
Do vinho, do arrepio,
Do sangue que é a sina
Do meu vampiresco coração...


Macabra e feia a fria tumba
recolhe seus restos mortais
estranha melodia na catacumba
tristes lamentos, sons irreais.

Repousa ali, será? certa figura
com um
karma para carregar
foi-lhe dada a sepultura
mas nada o pode segurar.

Desce a noite, ecoa lento
funesto som no cemitério
range a lage e num momento
tudo é terror, tudo é mistério.

De repente, surge irreal figura
toda de preto, imortal senhor
o drácula salta da sepultura
atrás de sangue, o seu penhor!

Na pressa, teus olhos me abraçam
Estrelas caem no chão das cidades
Nas curvas do teu corpo, atalhos
Trago a lua para o meio da tarde.

Acelerados os passos em torno
Do nosso eixo imaginário
Hemisférios fazem um só contorno
Pólos se fundem
Entre caminhos contrários
Veredas do acaso...

Numa louca seqüência
Mãos beijam, olhos tocam, o sorriso é trilha
Sonora hora, vai rolando a cena
Tua boca insinua meu poema
Sessão da tarde no
outdoor da esquina!

Nos guetos, os
funks
A fome, um chorinho
Dos meninos sem nome
O cântico dos fiéis distrai
Se funde à batucada louca
Das avenidas roucas
E em meio à dor, o laço
O éter do amor embriaga o espaço
Os bandolins da noite chegando
E nós exilados no abraço
Passam as horas e nós ficamos...
No abandono das ruas, o encontro
No abandono do encontro, o beijo.

Borbulham esferas
Na fera dos teus olhos
Giram anéis de fogo
Saturnas noites
No céu do pensamento
Teu olho vem
Imprimindo o infinito
Na pressa dos meus
De atravessar o espaço
E viajar em tua órbita...

Sigo o acorde que toca
Dentro de mim as palavras
No tom de tua íris
Minha estrada ...
Almas equalizadas
E tua canção me abraça
Vibra macio
Tua voz, meu arrepioooo...

Na percussão do coração
As asas de tua melodia
Arranjos que o destino tece
No acaso dos dias
Na partitura de um tempo
Só nosso!

Somos pedras arrastadas pela torrente
Somos a força da corrente que a tudo arrasta
Somos o abismo tenebroso
E a luz que ofusca
Somos o desistir e a busca
Somos as ruínas e o novo brilho da esperança
Somos a ancestral tradição
E o sangue novo capaz de uma revolução
Somos a razão, perfeita máquina neural
Mas, sobretudo, somos o coração pulsante
Que nos faz comuns e tão raros
Somos os nossos próprios deuses e demônios
Somos eternos e efêmeros
Somos poderosos nadas
Nesta longa viagem universal...

Abismo-me
Não sou das superfícies
Sou o passo fundo e o poço
O soluço do silêncio
Minha matéria é o escuro
Habito o fundo da luz
Infinito

Liberto meu instinto [quase extinto]
Meu bicho-homem domado
Em nome da salvação!
Devoro a razão [que não me decifra]
Danço com meu enigma
Para que ele me surpreenda

Para que o excesso de luz não me cegue
Não seque o meu coração...

Enxerto-me de mim
Pedaços sobreviventes
Aos controles da mente [remotos]
Extravaso meu mar sem fim
Extravio meus limites [tortos]

Tudo é claro à luz do escuro

Te dou meus naufrágios em carmim
E minha fome que devora o tempo

Beba-me sal, sul e sol [suor indomável]
Para que eu finalmente seja
E não mais padeça
No concreto pantanoso [divindade]
Prefiro o lodo
Das minhas ambigüidades
Minhas verdades [relativas]
Reveladas nos olhos [absolutos]

Freud tentou explicar
Nietzche falou de algum lugar
Mas o ego não ouve outro senhor
Duelam
persona e anima na guerra que inventou
O silêncio ecoa na platéia surda
[Ainda não sabe quem comandará os diálogos]
Monologam nos
cybers mentais
Vão tecendo o que vêem
Com seus olhos mágicos
[Ainda que tentem vendá-los]

Anterior ao espetáculo
Um escuro grávido
Cada um é um holofote a compor o cenário
O super-homem não está no palco
No além-do-homem as asas
A vontade que cria potência
No piscar das pálpebras
O vôo... o salto! [E o mito se fragmenta]
Nos quartos ou nos guetos
Guerreiros, aventureiros e mendigos
Se confundem no mesmo grito
Dionísio parte as correntes
O humano dança livremente
Abandona um deus prepotente

O ser múltiplo atua na nudez da razão
É tocha nos subterrâneos da intuição
Transformador na arte de procriar cidadãos
[não de papel]
Canta aos quatro cantos a insan[t]idade
Cordel do homem que sabe
Na loucura habitam verdades
Entorpecidas de antipsicótico leponex!

Na atividade de processamento neuronal incansável do córtex
Eram deuses os astronautas pisantes?
Ou a divindade é um menino
Arauto do asfalto capaz de colher uma flor
Da náusea dos homens...???

A estrela
Que trago em mim
Brilha
Quase ofusca
A minha busca

O meu abismo
Me assusta
Mas tenho asas
E um ser que dança
Dentro de mim...

Anjo,
Suas asas abanam pestes,
Silenciam agruras
Do passado recente,
Presente!

Aparição fugaz,
Asa branca
Celestial.

Sorriso aberto,
Céu da boca estrelado,
Palavras de brilhante,
Beijo suave
Angelical.

Encanta-me em teu vôo
Ao meu redor,
Ave de rapina
Que fui.

Paixão,
Rio revolto,
Caminho sem garantias,
Acompanhado.

Pecado?
Felicidade?
Sorte?
Azar?

Anjo, anjo
Espanta para longe
Essas dúvidas
Que são nossas.

Serei seu anjo
Enquanto o sonho não vem!

E a noite nos embala...
Ao som de mil trompetes:
Gritos e urros,
Suor e risos
De uma asa à outra.

Anjos caídos,
Entregues,
Sorridentes
Querubins apaixonados!

Calor frio
Nas costas penetra.
Calafrio
Invade a alma
Do ser espreitado.

Corrimão para a fuga
Descida
Ao poço
Do ser perseguido.

Cambaleios,
Rimas frenéticas,
Dedos como pernas,
A fugir
Do que aquece pelo esteio vertebral,
O interior encalacrado.

Pavor
Temor
Horror
E paz
Ao se mirar
O que virá!


Encontram-se,
Dá-se o natural
Ocorre-se o fatal
E vem a calma.

Tranqüila morte
Nas asas de um anjo.

Na escuridão do quarto solitário
Descreve o inominável.

Ânsia de ser ouvido,
Com a voz embargada,
Grunhido estampido,
Cigarra entalada!

Alguém para lhe estender a mão?
Um ombro para recostar a cabeça?
Colo para desabafar baixinho?
Esmorece que o tempo não deixa de cortar.

Desejo,
Querência,
Sentimento.
Tempo!

Do que se deixou de ser
Ao que se vê no espelho:
Farrapos de um ser
Que não sobrepesou com olhos críticos o mundo...

Resta algo a dizer,
Sempre há.
Não vá,
Fica!

Mas o querer não intercede,
E se vão os anos nos vincos da face.
Nos dentes que caem,
Dos cabelos rarefeitos.

E eis que mais um ser
De uma amargura contida,
Não sabe se reconhecer
Da própria janela de sua alma.

Amanhece,
A luz retorna,
E denuncia:
Jaz um corpo estendido ao chão.

Ser não ser,

TUDO e NADA,

Não foi e não será,
As asas da esperança
Simplesmente apagaram seu brilho.

E, num traço roto,
Foi-se.

Triste estou.
Fatos reais
Chamam-me dor
E dói!

Muito.

Demais.

Mudo e surdo estou.
Sorrateiro clamor
Sem palavras
A falar ou escutar.

Nada.

Jamais.

Bêbado estou.
Paliativos fugazes
Anestesiam o diferente,
O original.

Rápido.

Insólito.

Vivo estou.
Sentimentos verdadeiros
Da fatal morte
A espreitar.

Faceira.

Feiticeira.

Morto estou.
Renascimento de contas
Amarelas
E azuis...

Do ser que fez jus
Ao merecimento
Da felicidade,
Da agonizante alegria...

O que é a morte?
Adeus.

Como dizer adeus a quem dispensava tanto afeto?
Existe dor maior que não ter argumentos para reverter uma situação?
Pode-se aceitar apenas,
Única alternativa.

Não há respostas para isto,
Só a ferida que sangra no peito,
Pelos poros,
Pelos olhos.

A harmonia que existia, já não comove.
A sensatez se torna insustentável
E a dor toma conta de meu coração.

Dói!

Dói!

Dói!

Como se despedir,
Esgotar o não-dito?
Não há possibilidades,
Quando não se quer,
Só se quer sobreviver.

A batida do telefone após o adeus,
É algo que cala qualquer ser,
Estraçalha o sentimento puro,
Deixando o vazio e o medo.

Medo de seguir separado,
Separado do que não seria separável.
Emoções delinqüentes e traquinas
Coisas de criança.

Só o pueril para tomar de conta
Nada a salvar na lavoura estéril
Só contabilizar prejuízos.

Cansado de muito, de tudo.
Cansado de acreditar e não ter diálogo,
Só o amargo final daquilo que era para ser e não será.
Triste e frustrado aceito a chave por debaixo da porta.

Adeus meu sonho de ilusão,
A realidade me pareceu tangível,
Mas nada permanece, nada mesmo.
Só a dor,
Que há de esmaecer até não lembrar
Da última vez que ouvi a sua voz ao telefone.

Triste caminho de um coração amoroso,
Inadequado e cruel,
Mas afetuoso.
E, a escrita por testemunha,
Assim seja!

Identifico-me no reflexo do espelho
Do outro, vice-versa,
Ruminantes encalacrados do íntimo velho,
Imagens produzidas pela conversa.

O movimento inicial, a comunicação,
Interação de um com o outro,
Com o resto, com o mundo, especulação!
Sem paradas, ou interfaces, encontro.

O tempo limitante torna-se irreal,
Sentidos aguçados na atenção,
Percebimento salutar do processo real.

Consuma-se o ciclo de identificação,
No entanto sem a lógica temporal
Ambos não existem, sem a imagem da mão.

Ostracismo romântico inepto
Seduz o humanóide há milênios...
Por razões e motivos tênues
Conduz ao estoicismo inapto!

A essência de uma humanidade,
Natureza imbricada, evitada no inconsciente,
Traz sorte ao demente.

Existir no cotidiano entre pares
Envolve comunicação,
Mensagens salutares.

Se, em relação, percebes que és
Existes por meio da relação,
Reconhece o outro na interação,
Única possibilidade de existires com seus pés.

Seja!
Exista!
Viva!


Talvez eu não seja o homem mais adequado,
Não seja adequado ao que você procura.

Talvez eu não seja o que se espera de alguém,
Ou, seja mesmo inadequado.

Mas não imagino alguém mais real e humano,
O que ofereço é simples e ao mesmo tempo complexo.

Simples pelo fato de ser o que é,
Complexo pelo mesmo motivo.

O tesouro que tenho é apenas o meu próprio ser,
Já não ofereço mais rosas...

Flores são belas, mas perecem,
E o que tenho é imaterial e imperecível,

Talvez por isto mesmo assuma nuances densas,
Mas são brilhos apenas, nada além disso, brilho.

Brilho devido ao refletir a luz, caso contrário,
Sem reverberação, é fosco, como diamante bruto.

Talvez eu seja mesmo inadequado!

Escolhas
Interativas,
Comunicantes,
Desconcertantes...

Escolhas.
Vivas,
Mortas
Escolhas.

Escolho a vida e a morte.

Sem escolhas do frio silêncio.

Asas de um anjo caído,
Que esfrega as penas na sua cara.
Não há escolha.
Encolha!

-SILÊNCIO-

Da fofoca
Silêncio.


Da descompostura
Silêncio.

Do descaso
Silêncio.

Do desafeto
Silêncio

Do silêncio
Grito!

Pode-se pensar que somos diferentes,
Ou que somos iguais.
O que importa?

Semelhanças,
Diferenças,
Facetas de uma humanidade!

Ser humano talvez seja isto:
Diferente das similaridades,
Semelhantes nas disparidades.

Pode-se pensar que tal reflexão
Aproxima ou afasta...
E isto importa?

Para alguns sim,
Outros não.
E, mesmo assim, não se consegue atribuir valor,
Posto que a vida é por cada um percebida.

Solitários em coletividade!
Seletivos cativeiros,
Cativados
Forasteiros.

Talvez só queiramos um momento de atenção,
Um olhar,
Um sorriso,
Que console a solidão!

Talvez, naquele instante,
Em que lhe é atribuído tributo
Possa se sentir completo!

Talvez os românticos
Estivessem com a razão,
Da busca da tal cara-metade!

Talvez aquele sorriso faceiro,
Que alegre lhe gela a espinha,
Seja algo do temer a rejeição.

Talvez aquele olhar,
De alegria e reconhecimento,
Seja a aceitação almejada.

Para nossa sorte,
alma ensejada,
nesta noite encontrada.
Ave amizade!

Da lua cheia que me deste
Ao buraco negro que me jogaste.

Do passeio em tuas asas
À queda na dura realidade.

Dos desejos e sonhos
Desencantados.

Do café da manhã na cama
Ao jantar moscas.

Do afeto
Ao descaso.

Silêncio
Ao teu silêncio.

Elegância
Deselegante.

Esquizofrenia sem palavras,
Mudez ensaiada.

Vá!

Fico!

Voe!

Fico!

Viva!

Fico!

Parta em silêncio,
Com sua elegante maneira triste de ser deselegante.
Fico no silêncio de minhas escolhas.

Só!

Cruzam-se entorpecidos,
Apressados,
Vagarosos,
Apreensivos,
Sorridentes,
Fechados...

Diversas origens,
Crenças,
Reflexões
Razões,
Emoções...

Concretas similaridades,
Proximidades
Relações
Igualdades
Diferenças...

Singulares coletividades!

Em redes com pontos
De conexão
De comunicação
Ou não,
Estabelecem sua interatividade.

No entanto,
Não se vêem
Sequer se comunicam,
Interligados que são
Da mesma matéria
E mesmo fim:
A morte!
Que não é o fim...

Desabafar o choro represado
Em rios de lágrimas contidas.
Esperanças que esvaem com o sangue
Gotejante no vazio deixado.

Respirar torna-se tarefa inconsciente...
Não há jeito!
Mesmo que se não queira,
O pulmão se expande.

Alívio da desilusão que tortura,
Não há de vir.
Entregar-se a elucubrações,
Não há de servir.

Pulsa coração no peito chagado,
Corre sangue no corpo putrefo,
Morram sonhos desfeitos,
Acode o ser,
Própria sorte.

Melancolia de um afeto interrompido...

Que a falta de fome
Dê início ao começo depois do fim.

Que o processo criativo possa advir,
Afagar com mãos ungidas em amarelo solidário.

Que a tragédia grega possa dar espaço à alegria,
Permitir a sanha do coração leviano.

Consumar o que se já conhece,
Deixar vir o prazo de validade,
E num lampejo de vaidade
Renascer que se parece.
Perece!
Prece!

A dúvida está:
Musa ou Esperança...
Quem culpar?!

Qual das duas,
Despidas e nuas,
Causa tal alvoroço?!

Há culpa?
Não há?
Ah, Coração
Masoquista!

Ó paixão, funesta paixão,
Deixa-me respirar...
Não me inspires Esperança,
Esconda tua Musa
Deixa-me em paz!

Não, não...
Voltem, voltem!
Não, não...
Vão, vão!

Peito de colo,
Alvo desejo,
Internado no tempo.

Musa e Esperança:
Literais
Crianças
Brincantes
Torturantes
Traquinas,

Onde fica a saída?

Quando trabalhar, enquanto durmo
Pensa em mim!
Quando adormecer, enquanto trabalho
Sonha comigo!

Do meu local predileto no planeta,
Seu peito,
Sinto falta.
Penso em ti!

Recostar-me qual criança
Embalado na esperança
De um dia lhe amar.
Penso em ti!

Gira mundo,
Corre ampulheta do tempo
E torna real tal pensamento.

A pele gruda untada
Ao suor da mão plantada
Na fronte pelo prazer avivada.

O beijo suave acalora-se,
Dois em um corpo
A tal da união.

Com os dias o desejo arde.
A vontade aumentada
Explode a ansiedade,
Juntada.

Se este fogo que incendeia o peito é paixão.
Que se consuma o que se tem de sobra .
Pois nem com esforço se terá razão,
Entregar-se da maçã à cobra.

A saudade vem com a separação momentânea,
Instantânea.
Vontade de rever o apego,
Chamego.

Se virá amor desta tempestade...
Só viver para saber,
Alivia a ânsia bruta
Aconselha o conhecer!

Que seja amor, meu amor!

O dia e a noite,
O sol e a lua,
O dormir e o acordar,
Só me trazem tua recordação.

Momento sobranceiro:
Sua boca que vejo,
Seus olhos que saboreio,
Em sonhos acordados.

Vetusta paixão,
Intermitente,
Pulsa,
Repulsa,
Atrai,
Repele
E sugere.

Entra no meu dia,
Dentro de mim.
Sem pedir licença
Invada e fique

Estatelo-me entre juízos
Discretos,
Insólitos.

Enraízo-me no seu querer,
Quase sem querer.

Sigamos de mãos dadas:
Verso
REverso
ENTREversos
De uma poesia
Cantada.
Ah... que doce rima encantada!

Sou agora outro
Que já não sou!
A todo instante
Fragmentos de mim.

Enfileirados
Os Eus variados:
Construtos serpentíferos!

Ora mais finos,
Ora mais grossos.

De intenso colorido solar
A fosco diamante bruto.

Formas e matizes,
Num mesmo ser.

Serpente sem cabeça
De corpo descomunal
Assim me construo
No espaço temporal.

De mãos dadas
Percorrem o inusitado.

Mãos apertadas,
Atadas,
Uma só mão,
Numa só carne!

Vasto vazio
Que o infinito descortina
Aos pés
Calçados de pureza.

Energia vital,
Pura,
Brilhante,
Reluzente...

Na caverna desvalida,
Reconhecem-se,
E se cumprimentam:
Oi meu Eu.

Suspiro...
Pulso,
Reflito!
Quedo-me apaixonado.

Suspiro...
Ar tragado d’esperança
Como fumaça
Concreta quietude.

Suspiro...
Tanto a dizer,
Por viver.

Estreito caminho de flores senis,
Delicada atração afortunada.
Suave,
Pesada,
Quebrantável.

Jardim do nosso futuro amor:
Agora, cuidados merece.
Ceifar a insegura palavra
D’ontem.

Suspiro...
Ao te tocar,
Mão que me estendes.
Leito de amarelas rosas,
Encantadas.

Estou encantado!

Querer e desejar:
Palavras que trazem dor,
Verbos de intensa vivacidade,
Que lhe levam à palidejar.

Quero!
Algo,
Alguém
E a dor vem.

Desejo!
Tal,
Coisa qual,
E o desatino surge.

Perdido ou encontrado,
Consumado ou realizado,
O não-equilíbrio
Só lhe torna depreciado,
Assustado
De sofrer
Sem conhecer
O fato
Sua origem,
Embaçado!

Quero e desejo
Não querer nem desejar.

Cansado desse duelo
Interior,
Quedo-me
E sonho:
Há de passar!

Sonhar:
Verbo e palavra de esperança
Que pode aliviar
Ou piorar
Sua fortitude,
Atitude
De continuar na estrada...

Inadequado e hermético,
Percebo-me.

Por vezes acreditei em minhas idéias,
Ao defendê-las com alegre ousadia.

Entrementes, não foi bem assim...
Perceber-me inadequado
Fez-me chorar
A vida que construí.

E, se pareço magro e amargo,
É tão somente fruto
De mim mesmo.

Fruto da árvore de mim,
Da flor grávida de ideais,
Repleto de sementes inférteis.

O humor sarcástico,
Ácido,
Que dantes feriu,
Agora me consome.

Triste e inadequado,
Solitário e estranho
Num ninho sem crias.

Descortinar-me foi necessário,
E inquieto.

Aprumar-me
Na adequação da equação,
Impossível!

Alma de cortes,
Dilacerada em mil de mim,
Sem linha a coser.

Trago a dor,
Respiro a amarga semente,
Do que poderia ser
E não fui.

Inadequado sou.
Mundo que gira
Ao meu redor,
Com o qual
Não consegui girar.

Entrego o jogo,
Penduro a chuteira,
E me arrependo...


MEA CULPA, MEA MAXIMA CULPA!