terça-feira, julho 24, 2018


Faço mergulhos tão profundos, que ainda não encontrei com quem compartilhar... 

Às vezes, meus monólogos duram horas... penso em escrever... pego o papel e a caneta... 'psicografo' algumas linhas, mas começo a me distanciar da fonte... tudo vai se transformando num corpo esteticamente estruturado... deixa de ser fidedigno.

Na verdade, eu me sinto enclausurado numa linguagem muda... Acho que é daí que criamos uma ideia de absoluto, um Deus, ou coisa que o valha... É daí, que surge esse 'absoluto': da falha da linguagem, daquilo que ela não alcança... aquilo que ela não transpõe... para o qual ela não se presta à função de ponte conectora.

A vida é um campo onde a existência individuada se 'propõe'. Existe uma tensão neste processo de se 'propor', que, entretanto, fica adstrito a cada existência individuada...
 
Há indivíduos fantásticos que exaurem sua existência desde o início no descobrimento de uma linguagem própria, que lhes sirva de veículo, de ponte... Todos eles se matam ... suicídio direto ou indireto... Você os observa, sente que eles se tornaram seu próprio 'absoluto' (algo geralmente imenso e assustador para si mesmos e para a maioria das outras pessoas), mas sente que jamais poderá se servir com propriedade da linguagem que eles descobriram... 

Geralmente se destroem ao longo da vida, para constituir uma linguagem própria, além da padronizada, que não abrange suas inquietas subjetividades. E, o legado que deixam é inacessível à qualquer outro ser humano. O caminho para essa linguagem é sempre solitário, individual e implica numa desconstituição da própria existência... como se fosse um processo de virá-la ao avesso, um ajuste de contas entre as polaridades vida e existência...

A vida pode ser mesmo um deserto seco para qualquer existência que careça de uma linguagem própria para se ajustar ao seu curso.

Somos algo inexato e intangível a qualquer ideia, imagem ou expectativa que recaia sobre nós... Embora, apenas relativamente, também sejamos tudo isso. Fatalmente, as ideias, conceitos, imagens e expectativas que possuímos sobre o outro são mera projeção de nós mesmos, num constante processo humano de 'coisificar' tudo o que for alheio e, por isso, jamais se prestam à função de nos dizer 'o que' seja o outro.