quarta-feira, abril 27, 2011


APRILXXVII


Dito poeta e do amargo destino

Senti ainda jovem que a vida é pesada e dura,

Conheci mais tristeza que ventura

E sempre andei errante e peregrino.


Vivi sujeito ao doce desatino

Que tanto engana, mas tão pouco dura,

E ainda choro o rigor da sorte escura,

Se as dores passadas relembro ou imagino.


Chegado o momento, de ser isento

Dos sonhos da noite e do dia

E só com saudades, só lamento;

Entendo que não tive outra alegria

Nem nunca outro qualquer contentamento,

Senão de ter escrito o que sofria.


Nestes sombrios recantos,

Nestes saudosos retiros

Onde corre um rio de prantos

E sopra um ar de suspiros.


Eu sou o produto de sutil matéria,

Sob a sombra do onipotente,

Substância quase etérea,

Que vibra e ama e sonha e pensa e sente.